sábado, 27 de junho de 2009

A borboleta e o cravo II


Beijou intensa e profundamente
aquele cravo enlouquecido
uma paixão absurda lhe assaltou o coração,
cortou a pele, sangrou

Teve medo, lutou e
por um pequeno instante
se entregou

O cravo
agressivamente, numa sedução sufocante
lhe fazia flutuar, mas lhe impedia
de voar

A borboleta era
absorvida, bebida aos poucos
pelo cravo em sua fúria
e luxúria transbordante

Num descuido do cravo
arquitetou sua fuga,
solta das amarras
a borboleta ganhou o céu

Livre, pode contemplar novamente
o jardim onde há outras flores para pousar...

Gritou bem alto, que não quer se amarrar
a borboleta quer amar!

Suélen Campos da Silva - 27/06/09

sábado, 20 de junho de 2009

Fuga


Eu não sou tua
não sou minha
não sou de ninguém

Eu sou do mundo
eu quero a folia

Viver outros amores
em novos carnavais

Mas tu me cercas
não me abandona
mas, não serás minha dona

Preciso ir, entenda
que é amar é paz!

Não te quero em guerra.

Suélen Campos da Silva - 20/06/2009

sábado, 13 de junho de 2009


Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!


Florbela Espanca

domingo, 7 de junho de 2009

Me deixa


Último suspiro, gemido...palavra, não, eu não sei esperar!
Deixo pra lá...

A minha busca só está por começar...

Sou leve demais, corro com o vento
para admirar o luar

Me desnudo com o sol

E não podes me acompanhar
porque me desvio em loucos devires

Ardo nas brasas apaixonantes do meu coração inconstante e travesso

Onde te perdes de tanto pavor
Então... me deixa!

Suélen Campos da Silva - 07/06/09

sábado, 6 de junho de 2009

Última vez


Tento enlouquecidamente
desistir de ti, mas não consigo

Pela última vez
ti persigo e
desesperadamente
me desarmo e me entrego

Na ânsia de me estenderes os braços
e acalentares minha alma

Degustando com teus lábios
os pedaços fugitivos
do meu corpo aflito

Apaziguando atrevidamente
meu ser em conflito.

06/06/09
Suélen Campos da Silva

Gota


Ah! Se tu soubesses
que nos beijos que ti dei
um pouco de mim entreguei

Não apenas meus
lábios encontraram os teus, mais...

Uma gota de sentimento
na saliva
na tua boca derramei

Desejei que ela percorresse
tua garganta te acariciando e devorando devagarzinho

Em uma hipótese absurda
quis te inundar de paixão
despertando teu coração vagabundo.

31/05/09 Suélen Campos da Silva