quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Deixei atrás os erros do que fui



Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.

Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.

Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.

Fernando pessoa

Soneto 35 ~




Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;

Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;

Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço

Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.

William Shakespeare

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Soneto de separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
de repente, não mais que de repente

Vinicius de Moraes

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gangorra


Uma Gangorra... Um objeto que me exemplifica,
em partes, nunca ao todo, porque sou partes de muitas coisas.
Coisas que conheço, outras desconheço e
ainda há aquelas coisas que prefiro não ver...
Um dia desses esbarrei na mulher da minha vida.
Que surpresa ao reconhecê-la: era a minha própria face refletida numa poça d'água,
só que ao contrário.

Suélen Campos da Silva

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SEXO/CAMA




Fui ordinária
requintada
timida
Misturei poesia com vários palavrões
Gritei
Uivei
Gemi
Raguei almofadas e lençóis
Fui carnaval de amor
no circo de uma cama

Manuela Amaral