quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Único



Único

Tu és o caminho, a verdade e a vida

Tu és a salvação


Só tu tens a solução para todos os problemas

Nas horas de aflição e de alegria, tu estás sempre comigo


Em teu ombro choro e me apoio

Encontro as forças que preciso para vencer


Tu és a minha fortaleza e o meu refúgio

Ao teu lado nada temo


És dono do meu coração

Te amo, te adoro e entrego a minha vida simplesmente a ti


Tu és grande, forte, valente

Amigo de todas as horas


Tu és único

Tu és Deus


05/05/2000

Suélen Campos da Silva

OBS: Foto em Rio grande numa das praças ao fundo imagem de Jesus.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Crônica



Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar,
mas nunca encontrei você na escada

Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho. Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro. Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós. Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto. E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa?
(Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso.)
Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.


(Caio Fernando Abreu - Crônica publicada no “Estadão” Caderno 2 de 29/07/87)

Para ler ao som de Vitor ramil - LIVRO ABERTO - Satolep Sambatown

Contador de visitas

Só consegui adiconá-lo à página dessa forma. heehheeehhehe
Se alguém saber como colocá-lo de outra forma me avise.
Abraços!


quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Destino



Nada é por acaso, talvez seja um fato

Prefiro pensar que o destino é um ato
um traço, um rabisco

desenhado pela nossa ousadia e vontade
de permirtir-se
ser feliz

Felicidade é um estado, passagem...

Não corro, não me apresso
deixo que ela me encontre.

Permito que ela nasça, como sol
a cada dia,e se ponha ao fim de cada tarde
sabendo que a noite não é o fim,
mas o prenúncio de uma novo amanhecer.


Imagens: Nascer e pôr do Sol no Cassino.


Suélen Campos da Silva- 25/12/08 - Tarde feliz

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Desvio


Percorro um caminho
de curvas sinuosas e estreitas
cheias de buracos fundos e
vazios que pulo.

Ando tropeçando nas
pedras ocas e pontiagudas.

Caiu, me levanto,
me machuco.
Da dor que sinto
me curo.

Só não me curo
desse vício absurdo
de ti visar.

Presto atenção
aos desvios oblíquos e distorcidos
que se anunciam na emboscada.

Trilhas à beira
do precipício
por onde te persigo.

Te avisto adiante,
te aviso e corro
para me aproximar.

Continuo parada
no mesmo lugar.

Atordoada ando em círculos,
às vezes chego perto...

Congelo!
Parece que insistes
em delimitar um espaço.

Persisto no risco aflito
para te conquistar.

De repente...
Te fazes presente
atendes ao meu suplício

E no meio do desvio
teu sussurro em mim esbarra
passo a te escutar.


Madrugada ansiosa – 23/12/2008 – Tarde contente

Suélen Campos da Silva

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Traduzir-se



Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo.

Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão.

Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira.

Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta.

Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente.

Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem.

Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?

Ferreira Gullar


*Tela Nuno Gaspar


Aurora


Aurora

Sinto muito meu amor
Por ti não chorarei
Quero é amar, ter, estar

Assumo minha insanidade!
Desato os nós que me atavam a camisa de força
Deito e rolo pelos campos da liberdade.

Colho suas flores do desejo
E deixo desabrochar
As rosas de amores.

Vejo suas cores,
Faço arte com elas,
Degusto seus sabores
Para matar a minha fome...

Experimento a cada instante
Labirintos distantes do corpo
E próximos da alma
Por onde atropelada
Pela aurora da vida.

Tarde malandra de domingo, 23/11/2008.

Suélen Campos da Silva – SCS

Convite ( Uma mensagem de Natal)




Convido-te a amar, a cantar, a dançar, a viver...
Tudo que a vida pode te dar se souberes plantar e colher, lutar e persistir, alcançar, ajudar, acolher, dar e receber a ti e ao outro, perdoando e aprendendo a perdoar.
Sorrindo e chorando, sentindo o vento da mudança, de outros tempos...
Construindo um mundo mais humano, compreensivo e de paz. Mas, não a que gera a guerra e sim a paz – que nasce e emerge de dentro de nós, vêm do fundo de nossos corações que se complementa e se fortalece no estar bem com o outro que faz parte de nós e do qual fazemos parte.
Novamente te convido a amar, porém amar sem sofrimento, com respeito ao outro e a si mesmo, com cuidado, compreensão, comunicação, paixão de se deixar e se permitir ser amado.
A cantar o que quiseres contanto que seja com alegria aliviando a alma, limpando a mente e aquecendo o coração. Cantando todos uma mesma canção de esperança e união.
A dançar o que quiseres libertar o corpo sentindo seus movimentos e suas vibrações, se deixando levar por uma melodia que harmonize seu ser, estar e seu fazer...
Dançar com o outro a dança do encontro com o prazer de conviver com ele em comunhão e espera.
A viver, se arriscar, sonhar, ousar, errar, acertar, duvidar, brincar, enfrentar desafios, superar obstáculos, continuar...
Uma busca infinita de saber, saber aprender e saber ensinar que a vida é sonhar – sonhos que não são só nossos também de outros – e realizar!

2004 (Reflexão escrita durante a faculdade de Pedagogia/UFPel).

Suélen Campos da Silva - Sustrela

domingo, 21 de dezembro de 2008

Abertura


Abertura

Tentei abrir um caminho
Para o teu coração

Bati a tua porta
E a deixaste entreaberta

Mas, ali não estavas
Para me convidar a entrar

Passei a enviar
Bilhetes por baixo da porta
Com os mais belos versos
Que pude encontrar

Versos cheios de encanto,
Grávidos de desejo,
Fartos de doçura,
Apenas uma travessura
De menina curiosa e faceira.

E nada de tu vires
Até a porta,
Nem um ruído,
Gemido ou grito
Só o silêncio bandido
Que como espada, de guerreiro hostil,
retalha meu coração pequenino e vadio.

E ainda assim eu queria
Adentrar pela abertura,
Pela brecha, pelo buraco da agulha
Por onde te espio.

Mais que isso queria
Escancarar essa porta
Te surpreender entre as cortinas
Do palco onde atuas, danças

Onde improvisas personagens diversos
Partes de ti, quebra-cabeça
Que não te descrevem, mas dão pistas...

Ah!
Como queria navegar
Nesse rio revolto
De águas negras e gélidas
Que me separam
Da tua oponente e indeferente
Presença fugaz

Estranha distância
Que me paralisa e assanha.

Pierrô, Colombina ou Arlecrim, qual és?
Quem sou?

Minha sina é
Te (ad) mirar ao longe!

Noite ilusão – 03/12/2008
Suélen Campos da Silva

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Uma noite Surreal


Eram duas da manhã e Alice não conseguia dormir, vira de um lado para o outro na cama e o sono não vinha. Levanta-se e olha ao seu redor... Cai na gargalhada ela não reconhece seu quarto, acho tudo muito engraçado. Resolve assistir um pouco de televisão pega o controle remoto e tenta uma, duas, três vezes e nada. A TV não quer ligar o controle não funciona! Ou funciona ao não funcionar? Alice se questiona, porque quer ligar a TV, o que está fazendo naquele quarto engraçado e estranho, onde ela está? Ou melhor, como ela está? Alice quer compreender como ela mesma funciona. Alice quer se iniciar quando pensa e contesta o seu próprio funcionamento. Ou seja: Alice esboça um quase-funcionamento (talvez seja assim mesmo que acaba funcionando). Mas ela não quer funcionar igual, repetir, repetir… Alice quer criar novas formas de ver, ouvir e sentir: vê, ouve, e sente: e se arrepende! Acaba esquecendo, dá uma morridinha, volta a ligar o controle que acende uma luzinha. Mas a TV não liga. Senta-se porque acaba ficando cansada. Sim, muito cansada! Contempla a TV que não liga, atira o controle pela janela e se aproxima da tela, a toca e percebe que pode entrar nela... Mais que depressa, Alice curiosa e entediada atravessa a tela. Depara-se com uma estrada, um caminho de Alice, não as ruas mornas e comuns pelas quais transita todos os dias. Mas aquele caminho ansioso, que ela quer percorrer, um caminho diferente, quase oposto, onde cria e movimenta um pequenino movimento quase inexistente, também há curvas e retornos. Abalada pelo movimento, afetada pela tentativa, ensaia respostas sobre as quais se deitam caminhos: novas questões sob a forma de estradinhas obstruídas no meio da mata virgem cheia de leões. Sim, porque Alice está numa mata e fica atormentada, coitadinha! Depois que adentrou na mata virgem, cheia de leões não é mais a mesma. Pobre Alice! Como viverá agora nesse lugar? Como lidará com os leões que encontrou ao desvirginar a mata, ao roubar sua inocência, algo dela se perdeu também. Perdeu o sentido, não sabe qual caminho irá seguir, pois cada leão veio de trilhas diferentes que se cruzam em meio a essa mata selvagem. Alice percebe que ao profanar tão densa e oponente mata, ela se mistura a ela. A mata começa a vestir o seu corpo, corpo que se transforma e fica amarrado pelas folhagens da mata. Ela quer se soltar dessas amarras, das raízes que a fixam, a impedem de se aventurar nas várias possibilidades de trajetos a desvelar. Em frente aos leões que não a atacam, mas que a observam, Alice se mexe, se retorce e aos poucos, as amarras se partem, ela é livre. Sem pensar Alice corre e entra por um dos caminhos. Cansada, pára de correr e começa a caminhar devagar e cautelosamente. Avança e se depara com um lago, se aproxima e contempla sua face. Assusta-se! Seu rosto não é mais o mesmo. Algo mudou, mas o que mudou? O rosto de Alice ou a maneira dela se olhar? O que fazer? Alice precisa encontrar uma solução, ela tem de viver com o que aconteceu. Alice se desespera, ela começa a sufocar, está muito quente, algo a queima por dentro, ela transpira, parece que vai ficar sem ar... Resolve, então, ficar nua. Em silêncio com o seu pensamento, conversa consigo mesma e com o vento em busca das respostas que não tem… De repente um rugido rompe o silencio: Alice perdida em meio ao caminho que tomou, escuta esse rugido e corre até ele. E encontra com um dos leões que a observavam. Ele está sobre o bidê, o pequenino bibelô em forma felina, ávida de caça, a espreita. Há um corredor até uma seta da luz, ela contrai intensamente as fibras do tecido do tapete sob seus sapatos e o leão está ali para devorá-la. Alice não entende mais nada, a um segundo atrás estava nua e perdida na mata, agora está vestida, mas não está mais de pijama, ela veste um vestido estampado azul-céu com florzinhas brancas. Alice se pergunta o que aconteceu. Alice mudou de cena está numa sala estranha, de paredes coloridas umas negras, púrpuras, roxas e outras cor de carne viva. Quer contar o número de paredes daquela sala, mas não consegue são tantas que seu olhar não as alcança. Todavia a sala possui pouco espaço para um movimento, como isso pode ser possível? Não há tempo para entender as paredes estão ficando encolhidas e espremem Alice, que agora esta curvada dentro da pequenina sala, se mexe se contorce e derruba o bibelô do bidê. Ela fica à mercê do leão que está à espreita. Alice vê cada imagem, mas não entende o que as peças representam – qual o sentido de cada cena? O leão vai devorar Alice? Alice seria capaz de devorá-lo. Tudo o que aconteceu lhe deu fome e muita vontade de voltar para o seu quarto por mais enfadado e sem jeito que ele seja. Alice pensa que é o fim, acabou, vai morrer ali esmagada nessa sala louca. É quando Alice ouve um ruído e vê uma luz, as paredes cessam de encolher, Alice que está agachada se vira com dificuldade e olha para trás e para seu espanto e raiva a TV agora está ligada. Alice não quer mais ver televisão se levanta e a desliga. Mas que surpresa, Alice não teve dificuldade de se levantar, olha ao redor e está de novo no seu velho e desinteressante quarto. Será que foi tudo um sonho? Houve mudanças há mais espaço entre as coisas, tudo parece estar distante, principalmente Alice. Ela está distante dela mesma, sente um vazio... Ela não quer pensar nem refletir sobre mais nada porque toda essa aventura foi estimulante, mas sofrida, ela quer se distrair. Alice liga o rádio e ouve uma canção. A canção fala sobre o espaço, ela se anima e conclui, é isso, esteve habitando por espaços diferentes por onde caminhou e se aventurou. Talvez tenha se aventurado por caminhar no escuro, nos cantos perdidos de sua alma, foi onde se perdeu e se encontrou. Sempre numa sala que leva a outra sala. Aumentando e mudando de espaço em espaço, talvez ela tenha se tornado parte dele e ele parte dela. Talvez pedaços de Alice estejam flutuando por outros quartos onde ela não dorme... Talvez.

Suélen Campos da Silva
Kim Amaral Bueno

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Espera


Se vieres ao meu encontro
Com o mesmo encanto
Que o teu olhar
Ao mergulhar no meu
Denuncia...

Encontrarás abraços
Francos que ninaram
Teus medrosos sonhos melindrosos

Sentirás pousar no teu corpo
Como uma leve pluma
Os raios de sol
Do meu desejo
Reluzindo e colorindo
Tua pele pálida e ansiosa.

Somente se tu quiseres
E não negares esse profundo
E imerso segredo transcendente
Que trazes
Calado em tua alma rebelde.

Aquilo que te emudece
Ao me reconhecer,
Aquele gemido que esganas
Toda vez que abandonas teu coração cativo no escuro.

Aquela coisa deixada
Num canto do quarto abafado
Pelos cárceres onde tua face negra
Brinca de esconde-esconde

Sempre estás de tocaia com
Esse sorriso travesso
Por trás do terceiro olho.

Noite de sedução – 09/12/2008.
Suélen Campos da Silva

Tela da artista plástica Livia Burity.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Amizade


A amizade é um amor que nunca morre.

Mário Quintana

Na foto minha amada amiga Márcia e eu, a correria da vida pode afastar temporariamente, mas a amizade é o amor que perpetua.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Soneto do amigo




Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com os olhos que contem o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual à mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

Uma das melhores coisas da vida, o amor solidário, sincero e alegre dos amigos.
Minha homenagem a eles, amigos queridos, Luciana e Mario, amo vocês!!!

PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA


Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.

Cecilia Meireles

Vulcões



Tudo é frio e gelado.
O gume dum punhal
Não tem a lividez sinistra da montanha
Quando a noite a inunda dum manto sem igual
De neve branca e fria onde o luar se banha.
No entanto que fogo, que lavas, a montanha
Oculta no seu seio de lividez fatal!
Tudo é quente lá dentro…e que paixão tamanha
A fria neve envolve em seu vestido ideal!
No gelo da indiferença ocultam-se as paixões
Como no gelo frio do cume da montanha
Se oculta a lava quente do seio dos vulcões…
Assim quando eu te falo alegre, friamente,
Sem um tremor de voz, mal sabes tu que estranha
Paixão palpita e ruge em mim doida e fremente!

Florbela Espanca - Trocando olhares - 04/05/1916

sábado, 13 de dezembro de 2008

S.O.S

Vou escrever na areia da praia...

vou revelar minha angústia

Vou manifestar meu grito

Vou deixar que água doce da lagoa

apague as impressões do arrepio!

SCS - Suélen Campos da Silva

Sustrela

Maria e João

Maria e João
Numa tarde úmida de uma chuva tímida num inverno presente.
Maria diz a João: - Eu quero amar!
João, indiferente, responde: - Não posso!
Maria, curiosa, pergunta: - Por quê?
João, afrontado, responde: - Não me interessa!
Maria pressiona: - Por quê?
João, irritado, responde: - Eu não tenho tempo para amar.
Amar é pra quem tem paciência e persistência.
Pra que amar se hoje o que importa é ter prazer?
De qualquer forma e a qualquer preço. E é tão fácil se obter prazer...
Todo o tipo de prazer ainda que barato, vulgar e banal.
Amar é difícil, é muito compromisso.
Não tenho tempo para isso... Pra cultivar sentimentos e esperar ele crescer como se fosse uma plantinha.
- Pra quê?
Se o que vale é os momentos de pequenas sensações, prazeres, adrenalina, gozo.
Maria adverte: - Tu falas de prazer por prazer que perde seu sentido após um breve instante, fugaz, que acaba!
João admite: - É, acaba.
Daí é só buscar uma nova aventura, uma nova sensação, o prazer, como tu disse...
Maria conclui: - Passageiro, vão.
João resume: - É, mas numa “história de amor” nem tudo são flores, tem dias bons e ruins.
Eu quero só a parte boa. Não tenho tempo para romance, não me interessa amar porque eu não aprendi a querer isso – amor!
Maria, sem querer, deixa transbordar algumas lágrimas de seus olhos tristonhos.
E insiste: - Se tu quiseste eu te ensinaria a amar e nós dois aprenderíamos juntos, pois eu ainda não sei amar. Mas eu quero aprender!
João replica: - E eu não! Você é tola e romântica, tu não entendes nada de relacionamento nos dias de hoje.
- Maria, em que época tu vive?
- Tens que aproveitar o momento e fazer valer à pena!
Maria responde: - Fernando Pessoa escreveu que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.- A minha alma, João, é sim romântica e sonhadora, é poeta. E não vou desistir de querer encontrar amor, anseia por quem tenha amor bastante para repartir com um aprendiz. Falo de amor bastante nas palavras de Paulo Leminski.
João dá um risinho debochado de quem tem alma pequena e não consegue compreender o sentido, a suavidade e a beleza da fala alucinante de Maria.
Palavras que desabrocham de seus lábios, úmidos e ávidos, como botões de rosa de cores e aromas variados, intentando colorir e perfumar o mundo inodoro, insípido, preto e branco, superficial, lógico e sem graça de João.
Ele, então, se cala.O silêncio invade a sala.
A chuva passa, o céu se abre, o frio sede uma trégua e um pôr do sol se assanha no horizonte.
E Maria da janela contempla a mudança. Suas lágrimas secam e dão lugar a um sorriso que desponta em seu rosto. Nasce nela um riso travesso que é um misto de riso de criança com riso de sábio. Sorriso de criança que não se cansa de acreditar e de sábio que sabe esperar pelo amor que vai chegar – em todas as suas formas.
Seu sorriso irradia esperança e ilumina a casa ofuscando João que está acomodado no sofá.
Maria olha, ainda na janela, e espera... Um olhar vivo e intenso que talvez a aguarde na próxima curva da estrada da vida.

29/06/08 Suélen Campos da Silva

Grito Sentido

Um sentir sem sentido quero experimentar

De um desejo que devém do delírio

Numa sede insana de uma bebida que profana meu corpo

Quero me embeber no doce fel...

Encontrar no céu da tua boca o silêncio que sufoca o meu grito.

Suélen Campos da Silva- SCS - Sustrela

Na madrugada quente de 30/10/2008

Desencontro do silêncio com o estrondo

O meu silêncio se rompeu
não com o estrondo,
mas com o encontro
daquele arrepio na minha pele...

Aconteceu um estrondo –
uma explosão em meu ser.

Turbilhão de emoções,
palavras e (sem)sentidos.

Caos habitado por amor e ódio
se contrapondo e se confundindo
num mesmo sentir sem sentido.

Território desconhecidodo qual
não sei se fujoou se o enfrento.

SCS - Suélen Campos da Silva – 07/05/08

Sustrela